De Porto Velho à Manaus de Barco - Rio Madeira, Barco, 1° dia de viajem

Na terça-feira, fui ao cais durante a tarde para comprar a passagem, rede, repelente, que não abri, chinelo e um cadeado. Detalhe; quando forem comprar a rede, não se esqueçam de comprar uma corda para fixa-la no barco. Aproveitei, e comprei dois metros a mais, sempre é bom sobrar, do que falta!

Na quarta-feira, acordei às 06h30,  arrumei as mochilas e por precaução e um pouquinho de medo, coloquei minhas roupas dentro de um saco plástico, fechei e posicionei dentro da mochila. Se o barco afundar servirá de boia.

Tomei café na casa da Andrea, a qual agradeço pela atenção e hospitalidade. Ao sair, vi que o tempo estava nublado, chovia levemente. Resultado de uma precipitação forte que caiu durante a madrugada. Lembro que acordei com o barulho dos pingos que golpeavam o aço da janela.

No caminho para o porto parei no mercado, onde comprei três sabonetes, um sabão e uma escova. Caso fosse necessário lavar roupa na embarcação. Chegando ao porto, o segundo piso do barco já estava abarrotado de pessoas com suas redes armadas. O que parecia um emaranhado de teia de aranha. 

Tinha tanta rede, que me indaguei! Não terá lugar para mais uma? Perguntei para uma senhora ao lado, sentada na sua rede.  Onde poderia arma a minha rede? Ela apontou para o lado. Indicando um local entre dois punhos, elementos em formato de aros, localizados nas extremidades da rede, já amarrados. Onde, para ela, havia espaço suficiente para amarrar minha rede. 

  

Achei apertado! Mas logo, encontrei uma vaga com menos concentração de rede. E foi ali, que armei a minha rede.  As bagagens vão embaixo da sua rede, pois  não tem um lugar específico para guarda-las.

Terminando de fixar a minha rede. Um senhor que estava amarrando a rede do lado, viu que havia sobrado um pedaço grande da corda.  Bom dia, você poderia me emprestar um pedaço da sua corda? Me perguntou o senhor Ari Costa França, 69 anos. Imediatamente cortei a que tinha, e dividi com ele. Em um gesto recíproco de agradecimento, o senhor Ari, me deu umas dicas para ter mais segurança na amarração que tinha feito. Ou seja, me ensinou a amarrar corretamente a rede.

Logo que terminei a instalação da minha suíte cinco estrela, desembarquei para comprar comida, pois não teria almoço na embarcação aos passageiros, porque a alimentação a bordo só é servida com o barco navegando. Visto que o barco ainda estava atracado no porto recebendo carga. Batata, cebola e farinha, Pensei de fome ninguém morre no barco! Brincadeira! Em torno do porto no mesmo mercado que comprei a rede, tem vários box com restaurantes populares.

Mas resolvi comprar sardinha e legume em conserva. Seria bom! E não estraga se deixar para comer em outra hora.  Aproveitei  para comprar uma tupperware com o objetivo inicial de preparar o mix com os alimentos. E no futuro guardar algum objeto pequeno. No mercado gastei R$ 15, entre a sardinha, os legumes, a farinha temperada e a vasilha.  Voltando para a embarcação preparei o meu delicioso almoço. Huuuummm! Depois fiquei sabendo que estava rolando umas marmitas por três reais, em um restaurante popular fora do mercado.

Duas horas da tarde começa os preparativos para a partida do barco, o ritmo musical dos passageiros nesta tarde esta muito legal desde sertanejo anos 80 à Fuck o tal do lek lek lek lek lek lek, não gosto dessa musica de jeito nenhum. Pensei com migo imagina no meio do rio suportar isso, mas fazer o que estava no barco.  O senhor José Maria, 61, me disse que já teve situação em uma viagem que ele fez que aconteceu a maior algazarra no convés superior.

 Olhando para o convés não tinha mais lugar para rede, agora o número é maior que na hora que cheguei. As redes são de todas as cores e valores, 20, 30, 40 e 50, azul, branca, amarela, cinza com verde, vermelho com verde, laranja e quadriculadas de todas as formas e modelos.

 Claro que a minha é uma das melhores me custou 20 reais e uma historia da vendedora. Ela disse que já aconteceu de redes rebentarem e as pessoas caírem e morrerem dei risada e disse que se caísse voltaria para visitar ela. (Risos). A rede aguentou muito bem toda a viagem à história era só novela para vender uma mais cara.

Minha rede cinza em destaque...

Enquanto um membro da tripulação recolhia os bilhetes de passagem, anotavam os nomes e entregava uma pulseira para cada passageiro.  Os muitos senhores em grupos falavam de historias de naufrágios os quais tinham participado nos rios e que neles muitos amigos tinham perdido as suas vidas. Será que não tinha outra hora mais propícia para falar nisso ou era para assustar mesmo?  Um senhor mais cético me disse que o barco tem mais de trinta anos, mas que ele tinha passado por uma reforma e mudado de nome.

Na parte da tarde as atividades no barco são muitas como: ficar sentado na rede olhando os coletes com o nome antigo do barco pendurado no teto, deitar na rede, ficar no piso superior olhando o as margens do rio com sua encantadora beleza natural ou fazer o que o carioca fica fazendo azarando as moças bonitas do barco e acredite  não são muitas.

Neste primeiro dia as pessoas do barco estão meio tímidas conversam só com as pessoas que estão normalmente na rede ao lado, alguns nem saem das redes. O melhor desta viagem até o momento é o fim da tarde quanto o sol começa se esconder de traz das copas das arvores criando um tom dourando nas águas barrentas do Rio Madeiro vem logo na mente que o ouro que muitos dão a vida às vezes não se encontra no fundo nem nas margens do rio mais na superfície.  Este instante é único o vento no rosto o ar puro e o silencio quebrado somente pelo barulho do motor do barco.

Até esta tarde já passamos por diversas comunidades nas margens do rio. O barco não para em todas somente nas que descarrega mercadorias, as pessoas que precisam descer são levados por uma lancha que fica fazendo este trabalho de formiguinha. Como não consigo ficar parado fiquei andando pelo barco e conhecendo as pessoas que estavam viajando nesta embarcação.  Esta rota de Porto Velho à Manaus é feita por muitos mochileiros e viajantes. No barco encontrei gente da Argentina, Uruguai, Colômbia, Japão, Peru e França a maioria com o mesmo objetivo conhecer o mundo de perto e ao vivo.

 A grande maioria dos passageiros é ribeirinhos que estão voltando para suas casas ou indo para Manaus visitar parentes ou comprar suprimentos para o resto do ano. O rio é a grande via de comunicação e alimentação dos povos da Amazônia todo o que acontece ou vai acontecer nesta terra tem que passar por agua. Mesmo a saúde grande problemas nas grandes e pequenas cidades do Brasil aqui não é diferente, pois todos os doentes tem que às vezes sair por mais de 800 quilômetros pelos rios e igarapés para serem atendidos por um médico.

E você ai continua reclamando de que no teu bairro o médico só atende na parte da tarde ou da manha. Não estou dizendo que é certo ou errado só que existe nesse mesmo país pessoas que nunca viram um médico na vida. Claro se tem estrada e se tem hospital com certeza tem que ter médico. No barco tem um senhor que estava se tratando em Porto Velho, o mesmo conta que estava trabalhando em uma embarcação no interior do estado quando escorregou e quebrou a perna com fratura exposta.  O socorro demorou 7 horas de voadeira para chegar a uma cidade que tivesse hospital para os primeiros socorros. A voadeira é uma embarcação movida a motor com estrutura e casco de metal, geralmente alumínio, a maioria composta com motor de popa, sendo o meio de transporte aquático mais rápido na região.

As 06h30 serviram a janta, nesta noite temos uma sopa e as pessoas devem fazer uma fila, pois são servidos 10 pessoas por vez. O restante aguarda por sua vez, as que viajam há mais tempo já trazem na bagagem uma bacia pequena. Esses podem se servirem e irem comer na tua rede. A sopa era de macarrão com carne e bastante agua segundo o carioca.

Depois da janta subi para convés superior onde fiquei por uma hora apreciando a lua cheia que estava clareando toda a noite, pena que a câmera que estava não deu para registrar o espetáculo. Desci para dormi e senti que o clima deu uma virada já estava frio e fui obrigado a pegar o meu saco de dormi.  Nesta primeira noite demorei pegar no sono acho  que deve ser por falta de costume de dormi em rede.